Rua Francisco Corrêa de Mello

Extensão: 550 metros
Bairro: Bello
Lei 04/1966


Rua que leva o nome do histórico fundador de nossa cidade, ainda que a grafia do nome possa ser questionada. Há relatos de familiares que comentam que toda a família leva o sobrenome de “Correia de Mello”. Ainda, há citações em pesquisas que também consideram como “Corrêa de Melo”. De qualquer forma, a grafia consagrada pelo uso em nossa cidade é a adotada na nomenclatura da rua. Ainda que possa ser contestada, em nossa pesquisa documental, as certidões e registros originais a que tivemos acesso grafam, invariavelmente, “Corrêa de Mello”.

Francisco Corrêa de Mello, filho de Joaquim Corrêa de Mello e de Maria Rodrigues Corrêa, nasceu em 1816, na localidade de Lagoa das Almas, em Campo do Tenente, Paraná, região que à época pertencia à Província de São Paulo. Quando ainda jovem, por problemas particulares, obrigou-se a deixar a terra natal, acompanhando seus onze irmãos na descida para os já então promissores campos de Lages, seguindo o antigo caminho de tropeiros que ligava São Paulo aos campos gaúchos.

A numerosa família Corrêa de Mello escolheu a região de Campos Novos para se fixar, requerendo sesmaria da Fazenda Velha do Espinilho (atualmente no município de Monte Carlo). Ali, Francisco Corrêa de Mello casou com Dona Felicidade Maria Gonçalves, testemunhando a criação do Distrito de Campos Novos em 1851 pelo Município de Lages; assistiu a anexação desse distrito em 1873 ao Município de Curitibanos. E, em 1879, com a escolha do Rio do Peixe para limite provisório entre as províncias do Paraná e Santa Catarina, sentiu-se atraído pelas terras virgens mais ao Norte.

O casal Francisco e Felicidade já havia constituído sua própria família, que se compunha de 12 filhos, quando no ano de 1881, na criação do Município de Campos Novos, desmembrado de Curitibanos, foi incentivado a se estabelecer na região setentrional da nova unidade municipalista, para consolidar a posse dessas terras para Campos Novos.

Com alguns irmãos, cunhados e filhos, o ousado homem saiu de Campos Novos, adentrou no Vale do Rio do Peixe, e pela sua margem esquerda subiu rumo às nascentes, procurando um lugar que lhe agradasse. Foi assim que, um dia a expedição exploratória chegou a um local de elevações mais suaves, coberto de pinheiros, com caça abundante, solo fértil, peixe à vontade, e muito pinhão, alimento natural para a criação livre de suínos. Extasiado pela exuberância da maior cachoeira que viu no Rio do Peixe, nas proximidades da qual em poucos dias caçou dezenas de antas, veados e porcos-do-mato, proclamou que aquele seria o seu lugar, uma vez que não poderia ir mais adiante, pois estaria ingressando em terras que eram administradas pela província do Paraná.

Do acampamento provisório no salto, que mais tarde chamaria de Salto Bom Sucesso, Francisco Corrêa de Mello escolheu o local para a futura morada. Ali deixou um de seus irmãos e os filhos que o acompanharam. De um pinheiro fez uma canoa, e desceu o Rio do Peixe de volta a Campos Novos, para buscar o restante da família. Nesta viagem, denominou dois pequenos rios, afluentes do Rio do Peixe: o Rio Veado e o Rio das Antas; mais adiante, denominou o Rio das Pedras, e em cada foz deixou um dos seus parentes.

Em Campos Novos, segundo as leis do Império, requereu a posse das terras, às quais deu o nome de Fazenda Faxinal do Bom Sucesso. De regresso, com o resto da família e outros parentes, construiu a primeira casa. A Fazenda implantou-se como propriedade de cultura, onde se vivia da caça, da pesca, do plantio de cereais, da criação de gado, suínos, galinhas, soltos nos pinhais.

De 1907 a 1910, a família Corrêa de Mello assistiu os trabalhos de construção da estrada de ferro, que com sua permissão atravessava em paz as terras da fazenda. Não permitiu que a companhia ferroviária se apossasse das famosas 15 léguas de terras em sua fazenda, mantendo os direitos de propriedade. Foi com orgulho que o velho Francisco, já de cabelos e barbas brancas, viu a passagem do primeiro trem em 1910, e comoveu-se com a denominação de Rio Caçador à estação ferroviária, pois ele era o "Caçador" que fazia as esperas de caça do pequeno riacho, afluente do Rio do Peixe.

Durante a Guerra do Contestado, Corrêa de Mello, discordando do fanatismo, apoiou as forças militares até meados de 1915, chegando a ter suas casas incendiadas pelos jagunços. Francisco permitiu que nas proximidades da estação ferroviária o Exército Brasileiro montasse acampamento e construísse um campo de aviação.

No ano de 1920, o velho Francisco chorou a morte de sua querida esposa Felicidade. Então, atendendo aos clamores dos novos moradores do lugar, fez a partilha de suas terras distribuindo-as em quinhões, aos filhos, permitindo-lhes que as revendessem aos recém-chegados. Francisco sonhou com uma cidade. Contratou para a medição das partes, dois topógrafos, Victor Kurudz e Francisco Busato, reservando meia-quarta de terra no centro da sua imaginação, para a edificação de uma igreja, como lhe havia pedido anos antes Frei Rogério.

Em 1934, Caçador seria emancipado, fundando o município, mas Francisco Corrêa de Mello não viu a festa da independência da sua cidade. Velho, cansado, doente, faleceu em 16 de julho de 1933, aos 117 anos de idade, deixando sua linhagem de 12 filhos, 96 netos, mais de 300 bisnetos.


(extraído de texto de Nilson Thomé de 1993)